segunda-feira, 31 de maio de 2010

Só penso

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Deolinda Fonseca, Sem título, 2005. Acrílico s/ tela, 100 x 100cm.
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Já não vivo, só penso. E o pensamento
é uma teia confusa, complicada,
uma renda subtil feita de nada:
de nuvens, de crepúsculos, de vento.
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Tudo é silêncio. O arco-íris é cinzento,
e eu cada vez mais vaga, mais alheada.
Percorro o céu e a terra aqui sentada,
sem uma voz, um olhar, um movimento.
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Terei morrido já sem o saber?
Seria bom mas não, não pode ser,
ainda me sinto presa por mil laços,
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ainda sinto na pele o sol e a lua,
ouço a chuva cair na minha rua,
e a vida ainda me aperta nos seus braços.
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Fernanda de Castro, "Já não vivo. Só penso", in E Eu, Saudosa, Saudosa.
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2 comentários:

R. disse...

E, ainda que imóveis, a mente pode agitar-se e produzir incansavelmente... Lembra-me, se a já distante leitura não me atraiçoa, o paradoxo a que aludia Kundera n'"A Lentidão": o corpo abranda para aumentar a velocidade do pensamento.

guidinha disse...

R.:

Também concordo que vivenciamos a várias velocidades o mesmo momento (ou o mesmo acontecimento). Depende da natureza das "coisas".

:)