sexta-feira, 31 de julho de 2009

Espíritos da floresta

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Forest Spirits Mola, Panama. Photografer: Doranne Jacobson.



quinta-feira, 30 de julho de 2009

Adoro todas as coisas




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Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
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Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
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Álvaro de Campos, "Acordar", in Poemas.
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Descanso

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Pablo Picasso, Sleeping woman, 1952.
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A mente não se deve manter sempre na mesma intenção ou tensão, antes deve dar-se também à diversão [...]. O nosso espírito deve relaxar: ficará melhor e mais apto após um descanso. [...] o sono também é essencial para nos restaurar, mas se o prolongássemos constantemente, dia e noite, seria a morte.
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Séneca, "Trabalho e descanso na justa medida", in Da Brevidade da Vida.
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terça-feira, 28 de julho de 2009

A mentira

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Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória.
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Friedrich Nietzsche, "A Mentira", in Humano, Demasiado Humano.
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Open doors

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Hyatt Moore, Distant door. Oil, 90 x 120cm.
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Open doors
Are all around us
If we can only
See them before
They are closed on us
Open doors
Come and go in our lives
We sometimes go in
While at others we
Stay away not sure
If we want to travel into the
Open doors
That come to us in life
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domingo, 26 de julho de 2009

¿Puede el capitalismo salvar el mundo?

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Hasta ahora, la caridad se basaba en donaciones privadas y ayuda no gubernamental. El filantrocapitalismo, en cambio, busca aplicar estrategias empresariales a la creación de recursos para los más necesitados. Si empresarios de éxito como Bill Gates o Warren Buffett se han valido de las nuevas tecnologías y la globalización para amasar inmensas fortunas, ¿por qué no aplicar las mismas técnicas al cambio social? Acostumbrados a pensar a lo grande, los filantroempresarios pretenden aportar soluciones creativas a los grandes problemas: el sistema público educativo, el cambio climático, la guerra o el desarrollo económico de los países pobres.
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Michael Green (2009). Filantrocapitalismo: como los ricos pueden salvar el mundo. Barcelona.
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sábado, 25 de julho de 2009

Este mundo não presta

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Pedro Sarmento, Fim do mundo, 2001. Óleo s/ tela, 60 x 50cm.
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Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
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José Saramago, "Demissão", in Os Poemas Possíveis.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Temporal

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Papaya, Eye of the storm, 2005.
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Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.
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Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!
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.Manuel da Fonseca, "Ansiedade", in Poemas Dispersos.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Bosque

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Autor desconhecido. Timor Leste: Monte Ramelau. Fotografia.
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no bosque das nuvens
és o sol que se levanta
grito de pássaro
fogo oculto
tempestade sem vento
mar sem ondas
recordações e esperanças
pequenas mentiras
mentiras grandes
sopro vagabundo
de palavras perdidas
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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lunaticos

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Uno pinta siempre el mismo cuadro, otro escribe canciones country sobre su alunizaje, varios se dieron al alcohol, algunos no quieren saber nada del mundo [...], otros sufren enfermedades psiquiátricas, se han apartado del mundo o militan en extrañas religiones... ¿Por qué todos los hombres que han sobrevivido a un alunizaje parecen auténticos alienígenas?
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Andrew Smith Serrano, (2009) Lunaticos. Cordoba.
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terça-feira, 21 de julho de 2009

Fim

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Jean-Michel Basquiat, Cavalgando com a morte, 1988.
Acrílico e tinta de óleo s/ tela, 248,9 x 289,6cm.
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morre-se nada
quando chega a vez
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é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
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morre-se tudo
quando não é o justo momento
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e não é nunca
esse momento
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Mia Couto, "Horário do fim", in Raiz de Orvalho e Outros Poemas.
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

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Ivam de Almeida Garrett, Em busca da fé, 1987.
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Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.
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Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:
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Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!
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Florbela Espanca, "Aos Olhos Dele", in A Mensageira das Violetas.
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domingo, 19 de julho de 2009

Destino

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Kandinsky, A montanha azul, 1908.
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Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
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Ricardo Reis, Segue o teu destino.
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sábado, 18 de julho de 2009

Tribus urbanas

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Jean-Michel Basquiat, Sem título (Samo/Antiarte), 1979.
Caneta de feltro, lápis e caneta s/ papel, 26,5 x 20,5cm.
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Esta clase de manifestaciones juveniles se expande a pasos agigantados en las ciudades de muchos países de América latina, así como también lo viene haciendo en Estados Unidos y en Europa. Se trata de grupos que se reúnen en torno de una visión del mundo, de una cierta ideología, de una estética (peinado, maquillaje, modo de vestir) y del gusto por determinado género musical. Toman distancia de la sociedad, del "mundo adulto", y constituyen espacios de encuentro y de contención, en los cuales comparten intereses e inquietudes y se brindan protección unos a otros. Desde los históricos hippies y rockeros, pasando por punks, heavies y góticos, hasta los actuales indies, ravers y floggers, y los sugestivos emos, una vasta cantidad de agrupaciones se ha conformado, reivindicando un postulado que, más allá de las diferentes expresiones que adquiere, tiene igual connotación: la de manifestar la insatisfacción que les genera a los jóvenes el modo en que el mundo se presenta ante ellos.
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Constanza Caffarelli (2009). Tribus urbanas: cazadores de identidad. Buenos Aires.
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Poeta

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Costa Pinheiro, Fernando Pessoa e os heterónimos, 1978.
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Um poeta
É um ser único
Em montes de exemplares
Que só pensa em versos.
E só escreve em música
Sobre assuntos diversos
Uns vermelhos outros verdes
Mas sempre magníficos
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Boris Vian, "Um poeta", in Não Queria Patear.
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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cabelos ao vento

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Mario Nunes, S/ título. Escultura (detalhe).
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cabelos ao vento
ondas soltas
vozes de mar
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na noite espero a lua
desejo o vento
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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Felicidade

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Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. [...] Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre.
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José Eduardo Agualusa, "Felicidade eterna", in O Vendedor de Passados.
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terça-feira, 14 de julho de 2009

Ao pé de mim

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Henrique do Vale, S/ título. Acrílico s/ tela, 40 x 80cm.
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não vás...
vem sentar-te ao pé de mim
é tão cedo - soluça o vento
hesitas...
tenho medo
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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Olha bem!

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Autor desconhecido. Flora. Timor Leste.
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A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
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Alberto Caeiro, "Nem sempre sou igual no que digo e escrevo", in O Guardador de Rebanhos - Poema XXIX.
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domingo, 12 de julho de 2009

Eu mesmo

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Noronha da Costa, S/ título. Óleo s/ tela, 73 x 92cm.
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Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
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Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
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Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
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No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
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Mia Couto, "Identidade", in Raiz de Orvalho e Outros Poemas.
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sábado, 11 de julho de 2009

El poder sobre sus vidas

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Las meteduras de pata no son un problema personal, sino un vicio colectivo resultado de una sociedad equivocada, sin rumbo y carente de proyecto; el síntoma de unos tiempos en los que es muy difícil no pifiarla, sumergidos en la «lógica del supermercado» donde todo vale mientras se pueda comprar, donde ninguna decisión parece la acertada. Pero las cosas están cambiando. Sin líderes ni jefaturas, muchas personas están tomando el poder sobre sus vidas y tejiendo nuevas relaciones con significado: familiares, sexuales, de amistad, ocio, trabajo, económicas o de consumo.
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Angeles Rubio (2009). El arte de meter la pata. Malaga: Corona Boreales.
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sexta-feira, 10 de julho de 2009

És feliz

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Andy Warhol, Green cat, 1956.
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És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
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Fernando Pessoa, Gato que brincas na rua.
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Vida

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José de Guimarães, Ilusionista, 1978. Serigrafia.
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Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.
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Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
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Cecília Meireles, Reinvenção.
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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Coisas que amamos

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[...] quem não acredita em Deus [...] acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
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Miguel Sousa Tavares, in Não Te Deixarei Morrer, David Crockett.
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terça-feira, 7 de julho de 2009

Como te chamas?

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Oliveira Tavares, Sem título. Serigrafia, 70 x 50cm.
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o vento quebrou
o silêncio da tarde
a noite permanece oculta.
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ignoras quem te olha
como te chamas?
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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Podes partir

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Miró, Woman and bird in the moonlight, 1949.
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Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
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Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
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Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
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David Mourão-Ferreira, "Paraíso" , in Infinito Pessoal (1959-1962).
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domingo, 5 de julho de 2009

Chicken-a-la-Carte

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This film is about the hunger and poverty brought about by Globalization. There are 10,000 people dying everyday due to hunger and malnutrition. This short film shows a forgotten portion of the society. The people who live on the refuse of men to survive. What is inspiring is the hope and spirituality that never left this people.
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sábado, 4 de julho de 2009

Maioria

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Nada é mais repugnante que a maioria. Porque a maioria é constituída por uns quantos precursores dotados de grande força, por tratantes que se acomodam, por fracos que se vão assimilando e pela massa que se deixa arrastar sem saber minimamente o que quer.
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Johann Wolfgang von Goethe, "A Repugnância Pela Maioria", in Máximas e Reflexões.
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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Escultor

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Cy Twombly, Cicles and seasons. 450" x 300".
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o tempo, o tempo...
esse grande escultor.
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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Escrever

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Escrever. Porque escrevo? Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu. Escrevo porque o erro, a degradação e a injustiça não devem ter razão. Escrevo para tornar possível a realidade, os lugares, tempos que esperam que a minha escrita os desperte do seu modo confuso de serem. E para evocar e fixar o percurso que realizei, as terras, gentes e tudo o que vivi e que só na escrita eu posso reconhecer, por nela recuperarem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, que é a primeira e a última que nos liga ao mundo. Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão.
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Vergílio Ferreira, "Porque escrevo?", in Pensar.
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tudo é tão pouco

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Paul Klee, The rose garden.
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Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
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Ricardo Reis, "Tão cedo passa tudo quanto passa", in Odes.
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