sábado, 17 de abril de 2010

Metamorfose

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Trigueiro, Metamorfose. Técnica Mista, 120 x 90cm.
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Com as mãos, procura avaliar a qualidade da terra:
se as folhas lhe dão a consistência do ser vivo,
ou se a pedra que está por baixo, com os restos
fósseis da origem, rompe a sua unidade, e impede
o caminho às raízes.
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Os olhos não sabem, ainda, que a visão profunda
os dispensa. Por dentro, o olhar implica a noite;
e é da fusão das formas no negro último do céu,
para além da superfície das estrelas e das nebulosas
que essa verdade brilha com a sua exacta eternidade.
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Nuno Júdice, "Metafísica", in Meditação sobre Ruínas.
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5 comentários:

R. disse...

William James, um dos mais admiráveis pioneiros da psicologia, definiu metafísica como "um esforço extraordinariamente obstinado para pensar com clareza". Assim se percebe que para uma tal "visão" se "dispensem os olhos".

guidinha disse...

R.:

Os olhos captam imagens, o cérebro descodifica-as... lê-as. Trata-se de um processo complexo que, obviamente, não conseguimos discutir neste espaço.

No entanto agradeço o contributo :)

R. disse...

Sem dúvida, Guidinha. Não me referia tanto a essa visão, mas à clarividência que toma o pensamento e a reflexão como principais instrumentos. Foi o que me sugeriram estes belíssimos versos: "os olhos não sabem, ainda, que a visão profunda os dispensa". Percebo que divergimos na interpretação, e isso é enriquecedor :)

guidinha disse...

R.:

É verdade! Realizámos interpretações diferentes, o que só pode significar a riqueza literária do poema e do seu autor - Nuno Júdice.

R. disse...

E nisso estamos de acordo :)