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«O mestre Narciso Lobato era aquele que às vezes ia à caça e regressava pela madrugada na altura da missa matinal com os veados e corças pendurados nos cavalos e me fazia sonhar com uma alimentação melhorada de arroz com alguma carne. A ração diária de milho provocava contínuas dores de barriga; vinha misturada com algumas ratazanas descuidadas, mais o tempero do suor do esforçado cozinheiro Baltazar, afilhado do meu pai. Pude, assim, graças a este parentesco baptismal, ser acudido com mandioca assada colocada debaixo do tampo da minha mesa, como ração suplementar, face ao meu estado de raquitismo acentuado. Não tive a sorte de outros tantos colegas, que tiveram a providência de se aventurar pelo quintal de frutos para saborearem as guloseimas, mas que posteriormente ficaram conhecidos como koko. Isto é, faziam concorrência com os lakus, ratos, corujas e outros pássaros, experimentado o grau de maturidade dos frutos.»
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Luís Cardoso (1997). Crónica de uma travessia. A época do Ai-Dik-Funam. Lisboa: Publicações D. Quixote.
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